O processo de intervenção em edifícios históricos: da pesquisa ao restauro

Escrito por: Equipe INGÁ, em novembro de 2023.


A preservação do patrimônio histórico é uma preocupação central para a sociedade, uma vez que permite a manutenção da memória e da identidade cultural de uma comunidade. No entanto, a intervenção em edifícios históricos é um processo complexo que envolve diversas etapas e considerações. 

Neste artigo, exploraremos o processo de intervenção em edifícios históricos, enfatizando a importância da pesquisa histórica, levantamento físico, diagnóstico de patologias e a influência de teóricos na tomada de decisões. Além disso, abordaremos as condicionantes legais e éticas que norteiam essas intervenções e destacaremos três teóricos notáveis: Violet Le Duc, John Ruskin e Camilo Boito. 


Identificação e conhecimento do Bem: pesquisa histórica e levantamento cadastral

O processo de intervenção em edifícios históricos começa com a pesquisa histórica, que visa compreender a história e o contexto do bem em questão. Isso inclui o estudo de documentos, fotografias antigas e outros registros que podem fornecer informações valiosas. Além disso, é essencial realizar um levantamento físico no local, analisando detalhadamente a estrutura, os materiais e os sistemas construtivos do edifício.

Outra etapa crucial é a prospecção, que envolve a busca por vestígios de modificações ao longo do tempo e a identificação das camadas primitivas, como pinturas e alvenarias originais. Essas informações são fundamentais para uma intervenção bem-sucedida, pois auxiliam na recriação do aspecto original do edifício (caso seja essa a premissa do projeto).


Diagnóstico e Análise: Identificando Patologias

Após a pesquisa inicial, a próxima etapa é o diagnóstico, que consiste na identificação de patologias e na análise do estado de conservação e preservação do bem. Essa fase também pode incluir estudos geotécnicos, ensaios e testes laboratoriais dos materiais encontrados. O objetivo é compreender as condições atuais do edifício e determinar quais áreas necessitam de intervenção.


Condicionantes Legais e Éticas

A proteção e consequente intervenções em edifícios históricos são regulamentadas por condicionantes legais e éticas, emitidas pelos órgãos responsáveis pelo patrimônio, em suas diversas esferas (municipal, estadual e federal), através de diversos instrumentos de proteção, dentre eles: inventários, Resolução de Abertura de Tombamento (APT), Resolução de Tombamento (T), Regulamentação de Área Envoltória.

No caso da Resolução de Tombamento, além da proteção ela ainda atesta o valor cultural, histórico, arquitetônico e ambiental do imóvel, indicando as diretrizes para possíveis intervenções e o nível de preservação do bem, ou seja, quais edificações (nos casos de conjuntos arquitetônicos ou urbanos) ou elementos (nos casos de imóveis) devem ser preservados (volumetria, elementos externos, elementos internos, área envoltória). Essas condicionantes são essenciais para garantir a integridade do patrimônio e respeitar sua importância histórica e cultural.


Teoria aplicada

A tomada de decisões durante o processo de intervenção também é baseada em teóricos renomados no campo da preservação do patrimônio. Três teóricos emblemáticos são frequentemente citados:

1. Violet Le Duc: Este estudioso francês da arquitetura gótica defendia o retorno ao original. Ele acreditava que, mesmo na ausência de registros detalhados, era possível refazer e recompor elementos arquitetônicos para restaurar a autenticidade do edifício.

2. John Ruskin: De origem inglesa, Ruskin advogava pela preservação da matéria original do monumento, incluindo sua pátina. Ele enfatizava a importância da manutenção do que já havia sido modificado e ampliado, o que reflete seu respeito pela materialidade do edifício e sua evolução ao longo do tempo.

3. Camilo Boito: Este estudioso italiano do neoclassicismo é considerado o pai do restauro crítico. Boito enfatizava princípios como o respeito pela matéria original, a ideia de reversibilidade e distinguibilidade, a importância da documentação científica, a minimização de intervenções e o respeito pelas várias fases do monumento.

A Carta de Veneza, adotada em 1964, também é um marco importante na preservação do patrimônio histórico. Ela incorpora os princípios defendidos por Camilo Boito, fornecendo diretrizes claras para a conservação e restauração de edifícios históricos em todo o mundo. A Carta enfatiza a importância do respeito pela autenticidade do bem e da documentação detalhada de todas as intervenções.

A intervenção em edifícios históricos é um processo complexo que requer pesquisa meticulosa, diagnóstico preciso, consideração das condicionantes legais e éticas e influência de teóricos renomados. Seguindo esse roteiro e adotando princípios como os de Camilo Boito, a preservação do patrimônio histórico pode ser realizada de maneira eficaz e respeitosa, garantindo que as futuras gerações possam apreciar e aprender com o passado. A Carta de Veneza desempenha um papel fundamental nesse processo, fornecendo orientações globais para a preservação do patrimônio cultural.


Até a próxima leitura!